quarta-feira, 2 de julho de 2008

Vl Encontro- Como trabalhar o "erro " linguístico

Os dois lados dos "erros de português"
Marcos Bagno

das conseqüências da concepção normativo-prescritiva da língua foi o surgimento, há mais de 2.300 anos, da velha doutrina do erro, tão arraigada em nossa cultura. Evidentemente, não se trata propriamente de “língua”, mas de uma idealização nebulosa de correção lingüística, à qual se dá geralmente o problemático nome de “norma culta”. Essa “norma culta” acaba sendo identificada, no senso comum e na prática pedagógica tradicional, com a própria noção de “língua portuguesa” ou de “português”, numa equivocada sinonímia de graves conseqüências para o indivíduo e para a sociedade: o uso que não está consagrado nessa “norma culta” (o uso que não está abonado nas gramáticas normativas e nos dicionários) simplesmente “não existe” ou “não é português”. Esse modo de conceber os fatos de linguagem condena ao submundo do não-ser determinadas manifestações lingüísticas não-normatizadas, rotuladas automaticamente de “erro” — e, junto com as formas lingüísticas estigmatizadas, condena-se ao silêncio e à quase-inexistência as pessoas que se servem delas.
Ora, já está mais do que comprovado que, do ponto de vista exclusivamente científico, não existe erro em língua — o que existe é variação e mudança, e a variação e a mudança não são “acidentes de percurso”: muito pelo contrário, elas são constitutivas da natureza mesma de todas as línguas humanas vivas. Além disso, as línguas não variam/mudam nem para “melhor” nem para “pior”, elas não “progridem” nem se “deterioram”: elas simplesmente (e até obviamente, eu diria) variam e mudam... O português brasileiro, por exemplo, não vai nem bem nem mal, ele simplesmente vai, isto é, segue seu impulso natural na direção da variação e da mudança (que, insisto, são simplesmente variação e mudança, e nada têm a ver com “progresso” ou “decadência”).
Desse modo, tudo aquilo que é classificado tradicionalmente de “erro” tem uma explicação científica perfeitamente demonstrável. A noção de erro em língua é inaceitável dentro de uma abordagem científica dos fenômenos da linguagem. Afinal, nenhuma ciência pode considerar a existência de erros em seu objeto de estudo (os erros, falhas e equívocos podem ocorrer nas metodologias de pesquisa, nos procedimentos de análise, na elaboração de construtos teóricos, nos preconceitos de natureza ideológica que o cientista pode assumir consciente ou inconscientemente, mas não no objeto em si).
No entanto, mesmo que tenhamos tudo isso muito claro, é preciso sempre lembrar que, do ponto de vista sociocultural, o “erro” existe, e sua maior ou menor “gravidade” depende precisamente da distribuição dos falantes dentro da pirâmide das classes sociais, que é também uma pirâmide de variedades lingüísticas. Quanto mais baixo estiver um falante na escala social, maior número de “erros” as camadas mais elevadas atribuirão à sua variedade lingüística (e a diversas outras características sociais dele). O “erro” lingüístico, do ponto de vista sociológico e antropológico, se baseia, portanto, numa avaliação negativa que nada tem de lingüística: é uma avaliação estritamente baseada no valor social atribuído ao falante, no seu poder aquisitivo, no seu grau de escolarização, na sua renda mensal, na sua origem geográfica, nos postos de comando que lhe são permitidos ou proibidos, na cor de sua pele, no seu sexo e outros critérios e preconceitos estritamente socioeconômicos e culturais. Por isso é que, muitas vezes, um mesmo suposto erro é considerado como uma “licença poética” quando surge num texto assinado por um autor de renome ou na fala de um membro das classes privilegiadas, e como um “vício de linguagem” ou um “atentado contra a língua” quando se materializa na fala ou na escrita de uma pessoa estigmatizada socialmente.
Do ponto de vista estritamente lingüístico, não existe diferença funcional (nem, muito menos, erro) entre dizer os menino tudo veio e os meninos todos vieram, mas do ponto de vista social a regra é avaliada negativamente e rotulada de “erro”, rótulo que, automaticamente, é aplicado a todas as demais características físicas e psicológicas, bem como a todos os outros comportamentos sociais do falante que se serve dela.
Tem havido muitos equívocos no tratamento da questão do “erro” gramatical. Poderíamos classificar esses equívocos em dois grandes grupos. No primeiro, estão as atitudes das pessoas que, fascinadas pelos avanços da pesquisa científica, se limitam a considerar os “erros” exclusivamente do ponto de vista lingüístico e negam totalmente sua existência, uma vez que todos os fenômenos divergentes da norma-padrão codificada podem e devem ser explicados à luz de teorias lingüísticas consistentes. No segundo grupo, estão as atitudes daquelas pessoas que só consideram o ponto de vista sociocultural e se deixam comover por uma boa intenção baseada na ilusão de que o domínio da tal “norma culta” permite “ascensão social”: assim, elas têm consciência de que o não-respeito às formas gramaticais normatizadas pode ser prejudicial ao futuro do indivíduo que as desobedece, e acreditam que é preciso substituir essas formas não-normatizadas pelas formas canônicas, que gozam de prestígio na sociedade.
Ora, não podemos perder de vista a “dupla personalidade” daquilo que tradicionalmente se chama de “erro”. O erro é uma moeda, e como toda moeda, ele tem duas faces: uma face lingüística e uma face sociocultural. Como já disse, do ponto de vista estritamente lingüístico não existe erro na língua, uma vez que é possível explicar cientificamente toda e qualquer construção lingüística divergente daquela que a norma-padrão tradicional cobra do falante. Mas, do ponto de vista sociocultural, o erro existe, sim, e não podemos fingir que não sabemos do peso que ele tem na vida diária dos falantes. É na face sociocultural dessa moeda que está impresso o valor que se atribui ao suposto “erro”.
Uma das tarefas de um ensino de língua mais esclarecido seria, então, discutir os valores sociais atribuídos a cada variante lingüística, enfatizando a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua produção lingüística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa.
Marcos Bagno é professor do Departamento de Lingüística da Universidade de Brasília, tradutor, autor de ensaios e livros de renome como "A língua de Eulália: Novela sociolingüística" e "Dramática da língua portuguesa".
Publicado em 29/09/200609.2006-009N




V Encontro - Análise do livro didático


lV Encontro - Variações linguística


Encontramos uma variedade linguística dentro da sala de aula.Cada aluno tem uma bagagem riquíssima,com experiências e vivências o bastante para termos o Brasil dentro de nossas salas.

Alguns exemplos de variações em sala:

*...ele trouxe o de cumê...( a comida)

*...num mexe cum ele não...

*...tia, posso mijar?...(urinar)

*...dá pra comer de galfo...(garfo)

*... as prantas são tão bunitas ...(plantas bonitas)

*...se ela arredá daqui eu também vou...(sair)

*...vixi,ele me caguetou...(entregar o outro)

III Encontro - Como falo? Personagens que me influenciaram.


Vejo em minha fala, personagens que me influenciaram desde a minha infância, fazendo com eu fale de diversas formas de acordo com a ocasião.Gosto de falar como Jeca Tatu, Nerson da capitinga, eles fizeram parte do meu cotidiano. A fala da minha mãe, bahiana arretada, com muitos provérbios e um vocabulário vasto.Já quando quero falar difícil, busco na fala rebuscada do meu pai,engenheiro,gostava de ler grandes escritores,falava cheio de empostação.Quando quero dar sermão, aí então lembro a minha irmã mais velha,drama era com ela mesmo.Buscava lá da alma, cada palavra pra nos deixar com um nó na garganta.

ll encontro- Quem é o professor de língua portuguesa.

(Exame Nacional do Ensino Médio) 2006.
As frases dos alunos e os comentários dos professores:



'O ser mano tem uma missão...'
(A minha, por exemplo, é ter que ler isso!)

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'O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas..'
(Levei uns minutos para identificar o El Niño...)

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'O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio!'
(Eu não sabia que a camada tinha esse nome bonito)

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'Enquanto isso os Zoutros ... tudo baixo nive...'
(Seja sempre você mesmo!)

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'A situação tende a piorar: o madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.'
(E, além de tudo, viajam pra caramba, hein?)

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'O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente .'
(?)

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'Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele.'
(Faz sentido)

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'O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes.'
(Achei que fosse a pesca dos pássaros.)

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'É um problema de muita gravidez.'
(Com certeza. Se seu pai usasse camisinha, eu não lería isso!)

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'A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO.'
(Sem comentário)

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'Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia'
(Que pena! Também ursos e elefantes sumiram de lá.)

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'A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando'
(Foi trazida nas caravelas, certo?)

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'O cerumano no mesmo tempo que constrói, também destrói, pois nós temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos.'
(Não conte comigo)

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'Na verdade, nem todo desmatamento é tão ruim. Por exemplo, o do Aeds Egipte seria um bom beneficácio para o Brasil'
(pelamordedeus !!!)

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'Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais uns aos outros'
(Com algumas diferenças básicas!!)

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'... menos desmatamentos, mais florestas arborizadas.'
(Concordo! De florestas não arborizadas, já basta o Saara!)

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'... provocando assim a desolamento de grandes expécies raras.'
(é a depressão animal, né?)

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'Nesta terra ensi plantando tudo dá.'
(Isto deve ser o português arcaico que Caminha escrevia...)


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'Isso tudo é devido ao raios ultra-violentos que recebemos todo dia.'
(Meu Deus! Haja pára-raio!)


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'Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado.'
(Quem teria sido o fabricante? Compaq ? Apple? IBM?)


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'Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu, o verde representa as matas, e o amarelo o ouro.
O ouro já foi roubado e as matas estão quase se indo.
No dia em que roubarem nosso céu , ficaremos sem bandeira.'
(Ainda bem que temos aquela faixinha onde está escrito 'Ordem e Progresso'.)

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'Ultimamente não se fala em outro assunto anonser sobre os araras azuls que ficam sob voando as matas.'
(Talvez por terem complexo de urubus!)

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'... são formados pelas bacias esferográficas.'
(Imagine bacias da BIC.)

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' Eu concordo em gênero e número igual .'
(Eu discordo!)

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'Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio.'
(Muito sensato!)

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'O serigueiro tira borracha das árvores, mas não nunca derrubam as seringas.
(Estas podem ser derrubadas, porque são descartáveis)

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'A concentização é um fato esperansoso para todo território mundial..'
(Haja coração!)

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'Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos.'
(Que maravilha!)

l Encontro- Memorial do professor

"Enquanto podemos ver, ouvir, andar , compreender, estamos certos de que a felicidade não se acha longe. "

(J. Paul Schmitt)
Venho de onde tudo começa ; do sonho. Ser professora não estava nos meus planos, queria ser arquiteta , estilista, mas o destino assim o quis, então fui fazer magistério em 1991.Lá tive bons exemplos e professores magníficos, que aos poucos foram me enveredando por esse caminho da educação.Minha base então solidificou-se em uma época em que os educadores buscavam por valorização, tempos de grandes lutas mas também de grandes conquistas. Me formei em Letras pela UEG e foi aí que minha paixão pela língua se deu de verdade e dar aula se tornou minha atividade predileta.Sei que há muito a aprender , muito há se fazer e no auge dos meus 12 anos de carreira, ainda busco o professor que quero ser (e algumas vezes nem quero ser) , mas sei que ainda espero por uma revolução no ensino que nos faça trabalhar com mais e mais paixão.A valorização? está mais perto do que imaginamos...mas ainda não a conquistamos por inteiro.

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